Visto como o jardim de Nossa Senhora da Penha, o bairro cresceu, se desenvolveu e hoje é referência pela sua jovialidade e diversidade.
“Era da Penha, a Nossa Senhora dos capixabas, aquele jardim feito de cajueiros, goiabeiras, araçás, aroeiras, palmeirinhas e até bromélias e orquídeas, entre piscinas de areia. Dezenas de manilhas espalhadas denunciavam as primeiras tentativas de urbanizar a região, nos anos 60”.
Eram 1.139.934 metros quadrados, entre a Avenida Fernando Ferrari e a Praia de Camburi, onde a mata era predominante. De todos os lugares, era possível observar o Convento de Nossa Senhora da Penha. Aquela área era o Jardim da Penha.
O bairro começa, de fato, em 1969, ano em que Vitória experimentava uma expansão que ultrapassava o seu limite de ilha e direcionava a população para a região norte da cidade. Mas a sua história começou bem antes.
No começo do século XX, a área em que Jardim da Penha, Mata da Praia e Morada de Camburi se encontram, era a fazenda Mata da Praia, que pertencia ao capitão Justiniano Azambuja Meyrelles. A área era rural, abrigando criação de animais, algumas áreas plantadas, córregos e árvores. Por estas características, o coronel acreditava que aquela área funcionaria como o pulmão da cidade de Vitória. Ali, Justiniano desenvolvia um embrião de uma escola rural, chamada então de Artes e Ofícios, para educar meninos. O coronel faleceu no ano de 1922, e as terras passaram ao poder de sua filha, Sylvia Meyrelles da Silva Santos. Casada com Aristóteles da Silva Santos, Sylvia ficou viúva cedo. Após o falecimento do esposo, Sylvia mudou-se para São Paulo, doando as terras para suas filhas, Maria Sylvia e Marya Aristotelina, que já estavam casadas.
A primeira tentativa de lotear a área veio no ano de 1928, seis anos após a morte do coronel Justiniano, através de Ostilho Ximenes. Com o objetivo de divulgar o seu negócio, ele criou um jornal, mas não conseguiu levar para frente o loteamento. O jornal foi vendido para Thiers Velloso, e seria a semente do jornal A Gazeta.
Na década de 1950, os sócios da Empresa capixaba de Engenharia Civil interessaram-se pela área. A ideia era criar um loteamento planejado, inspirado na cidade de Belo Horizonte. O acordo com as herdeiras do coronel Justiniano foi assinado e a empresa se comprometeu a implantação de ruas, praças, distribuição de água e luz com urgência, para facilitar a venda dos lotes. O projeto, aprovado pela prefeitura de Vitória no ano de 1952, dividia a região da Adalberto Simão Nader ao canal de Camburi em largas avenidas diagonais, que formavam 13 quadras. Cada uma das quadras era dividida em lotes de 380 a 400 metros quadrados. No total, cerca de 1400 lotes foram demarcados. Os primeiros lotes vendidos foram os do bairro de Jardim da Penha, para armazéns, como o Instituto Brasileiro de Café (IBC), com cerca de 25 mil metros e outros que se entendiam ao longo da avenida que liga Vitória à Serra. O loteamento, porém, teve um crescimento lento, e a área passou a ser invadida, o que desfigurou o projeto inicial.
O local passou ainda por mais uma desconfiguração de projeto, que aconteceu na década de 70, quando a empresa Sena Engenharia se propôs a fazer o projeto de Mata da Praia de forma diferente do projeto inicial. O contrato com a Sena Engenharia foi rescindido na década de 80, mas o traçado em diagonais da região de Jardim da Penha foi alterado, principalmente na área que ficava próxima à Mata da Praia.
Em 1969, as primeiras famílias se mudaram para o bairro de Jardim da Penha, 106 ao todo. Os primeiros momentos foram difíceis. A padaria mais perto estava localizada em Goiabeiras. Não havia iluminação. Os ônibus só passavam pela Avenida Fernando Ferrari. A dificuldade dos primeiros momentos criou, entre os moradores do bairro, um sentimento de solidariedade, que foi base para as primeiras tentativas de organização comunitária do bairro.
Foi o sentimento de solidariedade, também, que evitou o isolamento das famílias, que se reuniam nas ruas, e contribuiu para a criação do Clube 106 por estas famílias. A ideia começou apenas com apenas 13 mulheres, que foram de casa em casa convencer os moradores a participarem do projeto.
O terreno, um lote na rua Francisco Generoso da Fonseca, de número 707, foi comprado com o dinheiro que as famílias arrecadaram promovendo churrascos que eram realizados em uma choupana de palha. Uniam-se aos churrascos e as serestas, que aconteciam nas noites de sexta-feira. O clube abriu as portas em 1970, e o primeiro baile contou com o conjunto de Romilson Aguieiras. O clube ganhou tanto destaque que recebeu grandes nomes na música brasileira, como Martinho da Vila e Waleska.
Foi ainda no Clube 106 que começou o bloco “segura o copo”, primeiro bloco de carnaval de Jardim da Penha. A ideia surgiu com Jadir Gobbi e o bloco está ativo até hoje. Como tradição, o desfile acontece no domingo anterior ao carnaval, levando dezenas de pessoas a participarem. Após concentração no Clube 106, o bloco percorre as ruas de Jardim da Penha até a praia, onde inicia o banho de mar à fantasia.
A partir de 1970, Jardim da Penha recebeu mais imóveis. Com grandes empresas chegando em Vitória e no Estado, as construtoras se voltaram para Jardim da Penha. Os moradores do bairro eram basicamente compostos por funcionários públicos, trabalhadores estatais e autarquias, técnico de grandes empresas, como a Vale e a antiga Aracruz Celulose (hoje Fibria), comerciantes e profissionais. As classes mais altas não se interessaram, a princípio, pelo bairro.
Foi na década de 80, que a Rua da Lama começou a se firmar como point de entretenimento. O nome foi dado devido a situação em que a rua se encontrava após as chuvas e abrigava uma quantidade bem reduzida de bares. Hoje, a rua é sinônimo de diversão e palco para ótimos programas.
As décadas de 80 e 90 foram de grande crescimento para Jardim da Penha. Dos primeiros conjuntos construídos, passaram a surgir edifícios, e a rápida expansão do bairro chegou a trazer mil novos moradores por ano, chegando, nos anos 2000, a 30 mil habitantes.
Atualmente, Jardim da Penha é um bairro central, autossuficiente, construído etapa por etapa pela união dos moradores. Entre o canal de Camburi e a Avenida Aristóbulo Barbosa Leão, e outras duas avenidas, a Avenida Dante Michelini e a Fernando Ferrari, está o bairro de Jardim da Penha. Na mudança da configuração Urbana de Vitória, depois que o centro perdeu parte de suas funções, coube a Jardim da Penha abrigar a classe média. Hoje, Jardim da Penha é um bairro multifacetado. A Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), localizada logo a sua frente, permite que um número grande de pessoas se mude para o bairro, trazendo jovialidade e rotação entre os moradores. Jardim da Penha ainda se destaca pela quantidade de atrativos, quando o assunto é lazer. São inúmeros bares, lanchonetes, lojas e comércios de todos os tipos.
Vida Pública
A primeira tentativa de criar uma associação de moradores aconteceu ainda no ano de 1969. Porém, a Associação de Moradores de Jardim da Penha (AMJAP) só surgiu mesmo em setembro de 1984. Sua criação surgiu da união dos moradores contra o aumento de prestações do Banco Nacional de Habitação. Inicialmente, a associação se reunia na sede do Clube 106 e em outubro do mesmo ano editou o seu primeiro jornal, Boletim da AMJAP, um especial de fundação, que levantava alguns problemas do bairro. Em março de 1986, a AMPAJ elegeu a sua primeira diretoria, a partir de uma chapa única, com 1397 votos. Visando atender as demandas da comunidade, a associação fez uma pesquisa com os moradores do bairro para levantar os principais problemas que atingiam Jardim da Penha. A enquete gerou motivação e participação da população, além de divulgar a associação.
Texto extraído e adaptado do livro Jardim da Penha, de Andreia Curry, do ano de 2001.
Livro da Secretaria Municipal de Cultura, pertencente a coleção Elmo Elton